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Curso de defesa pessoal para mulheres

RIO – Defesa pessoal nada tem a ver com força. Esta é a primeira lição do curso que pretende ensinar como e quando você poderia reagir em uma situação de perigo, após saber avaliar se deve mesmo. As táticas não servem apenas para mulheres, mas a procura delas por este tipo de aula vem crescendo. Palavra do professor, o sargento da Marinha Erasmo Carlos Gomes, que criou um método exclusivo inspirado em várias artes marciais (krav-magá, karatê, judô, boxe, jiu-jítsu, kung fu, etc) e há 13 anos dá aulas para militares, policiais e civis.

Com a insegurança nas ruas e até dentro de casa, os números revelam os motivos que as levam a querem se defender: a cada 15 segundos, uma mulher é violentada no Brasil, de acordo com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulher (Unifem). Outra pesquisa deste ano revela que, em cada 100 mulheres brasileiras, 15 vivem ou já viveram algum tipo de violência doméstica, segundo o DataSenado (órgão ligado à secretaria de pesquisa e opinião pública do Senado).

Entre as alunas do curso do sargento Gomes, parte já teve experiência com algum tipo de violência, a maioria, assaltos na rua. Motivadas para aprender a avaliar uma situação de risco, elas têm mais facilidade para entender e aplicar o princípio número um: a simulação, explica o professor. A idéia é convencer o assaltante – ou seja lá quem for seu alvo – de que você não vai reagir. Assim, a vítima ganha tempo e pensa em qual estratégia deve usar. Na prática, não é tão simples assim.

A aula parece, de fato, um grande ensaio. O professor e os instrutores encarnam os “homens maus” e parecem nunca ter escutado aquela história de “sexo frágil”. Eles gritam, entortam seu dedinho, e fazem você se ajoelhar, sem dó. E nem adianta “pedir pra sair”. Mas é bom assinalar que ninguém sai machucado, a pressão é mais psicológica do que física.

Tudo isso, segundo eles, tem o objetivo de preparar as alunas para as situações reais em que a defesa pessoal pode ser útil. O primeiro passo é identificar quais são estes casos. Ou seja, quando devemos reagir. O curso não ensina ninguém a esquecer a velha recomendação de entregar qualquer objeto de valor quando assaltado. Muito pelo contrário. Para o professor, o único bem que justifica uma reação é a própria vida.

O ponto alto é a experiência de derrubar um instrutor com o dobro do seu tamanho usando apenas um golpe

Para as mulheres, o ponto alto é a experiência de derrubar um instrutor com o dobro do seu tamanho usando apenas um golpe que ele mesmo ensinou: você pega o sujeito de surpresa, aperta um único músculo da mão dele e, dobrando o dedo indicador, faz o marmanjo se ajoelhar aos seus pés. Surpresa com minha própria força, cheguei a pensar que estavam apenas tentando me convencer de que posso levar a melhor nessa briga desleal.

No dia seguinte, testei outro truque com um irmão de 1,80m de altura e funcionou: sem muito esforço, tirei das mãos dele o que seria uma faca. E se o controle remoto fosse uma arma de verdade, ainda teria feito um bom estrago no seu pescoço.

Todas as armas usadas na aula, aliás, são imitações. Os instrutores fazem algumas demonstrações com facas e aparatos, como um celular capaz de dar choque, mas, na hora de ensinar às alunas, os aparatos são de brinquedo. Apesar disso, dá para sentir medo ao ser colocada nas situações criadas pelo professor para mostrar como funcionam as técnicas de defesa pessoal.

O momento mais tenso da aula ficou, justamente, para o final, quando a simulação é posta em prática. Para testar as convidadas especiais da turma, o professor preparou um desafio: três alunas foram escolhidas para enfrentar a sala de aula às escuras, com todos os instrutores do lado de dentro, vestidos de preto, usando máscaras ninja e gritando palavras assustadoras. Quando as luzes foram acesas, depois de cinco minutos simulando uma situação de perigo, achei que não fosse dormir naquela noite.

Ao final da aula, você torce para que nunca precise usar as técnicas que aprendeu

A experiência mostra que, de fato, é preciso tentar manter a calma. A grande pergunta que fica é se conseguiremos ter sangue frio quando precisarmos usar a simulação numa situação real. Como qualquer ensaio, a impressão é que, quanto mais vezes você repetir os passos, mais chances terá de acertar diante da platéia. O professor recomenda que os alunos repitam as lições de tempos em tempos. Ao final da aula, você torce para que nunca precise usar as técnicas que aprendeu. Confira a reportagem em vídeo sobre o curso

Curso de Defesa Pessoal Feminina ABraPAM – As aulas são dadas em universidades, empresas e outros locais, mediante pedidos de grupos. Carga Horária: 12h/aula. Valor: R$ 100. Informações sobre datas e horários: www.abrapam.com.br ou (21) 2596-9431.

As leitoras do GLOBO ONLINE que imprimirem esta reportagem e apresentarem no ato da matrícula ganham 50% de desconto. Promoção válida para os cursos de 2008.

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